Anteontem, de volta após o recesso de final de ano, retomei conversas com empresários e presidentes de algumas empresas. Fiquei assustado com o que ouvi. A notícia da posse dos prefeitos eleitos foi totalmente ofuscada pelos futuros desdobramentos da crise. Ninguém fala outra coisa a não ser sobre o quadro de incertezas que paira no ar.
O medo continua presente na agenda dos executivos, ainda mais quando as perspectivas são bastante negativas. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por exemplo, estima queda de 7% na produção industrial em novembro passado. Ritmo que deve permanecer no primeiro trimestre de 2009.
Até mesmo o comércio espera por dias nebulosos, apesar das vendas de final de ano nos shoppings de todo o Brasil terem crescido 3,5% em 2008, se comparadas ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop). Em comentário feito na CBN nesta quarta-feira, a jornalista Míriam Leitão fala que o comércio está estocado e não deve fazer muitas encomendas à indústria.
É natural existir dúvidas diante das dificuldades que a economia mundial enfrenta. Mas vejo um tom de exageros e incertezas injustificadas. Não podemos esquecer que há boas notícias. Vejam o grupo Pão de Açúcar que após maré de turbulências planeja expansão e avalia compra de 15 empresas, segundo afirmou o presidente Claudio Galeazzi, em entrevista dada ao portal da revista Exame.
Claro que é recomendável cautela, repensar decisões de investimento, gerenciar melhor os custos, aproveitar para selecionar de forma rigorosa os funcionários que serão promovidos, ser mais rígido na concessão de bônus que não precisam, necessariamente, estar atrelados aos ganhos que a empresa obteve.
No entanto, precisamos ter uma visão menos pessimista. O brasileiro sabe como ninguém lidar com altos e baixos. E mais. Deveria aprender que crises sempre existirão e as ondas passam. Elas fazem parte do processo de mutação que ocorrem em todas as esferas imagináveis. Nada está incólume.
Ou seja, as incertezas devem ser traduzidas em momento de criar um novo cenário, promover uma análise mais criteriosa das ações a serem tomadas, ampliar o espírito empreendedor que existe em cada um de nós, aperfeiçoar o processo decisório. O que não podemos é seguir os mesmos passos.
A crise foi gerada por especulações, malandragens e supervisão frouxa daqueles que deveriam fiscalizar as instituições financeiras norte-americanas e, curiosamente, medidas drásticas começam a ser estudadas mediante especulações. É uma roda viva sem fim. Talvez o grande desafio que ainda não sabemos como lidar é aprender a nadar para não se afogar. Incertezas são inerentes à vida.
O grande segredo está em como transformar a retórica de anos e anos se queremos de fato evitar que outras marolas continuem provocando traumas, muitas vezes irrecuperáveis.
Não é hora para desespero, pânico. É hora de arregaçar a manga, trabalhar duro, se adaptar ao novo patamar de negócios e sair lá na frente, maior e melhor.
Texto de Júlio Sergio/HSM
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