Friday, November 30, 2007
Guinness Red
Poucas marcas no mundo podem contar com uma tradição tão poderosa quanto a cerveja Guinness. Criada pelo irlandês Arthur Guinness em 1759, a bebida preta, forte e encorpada ainda é produzida na fábrica original do grupo, na zona portuária de Dublin, capital da Irlanda. Para servi-la nos pubs, segue-se um ritual que dura exatos 119 segundos e garante o denso colarinho de espuma no topo dos copos, sempre na dosagem-padrão de 568 mililitros, o chamado imperial pint. Graças a essas características, a Guinness ganhou o mundo como um símbolo do Império Britânico. Hoje, a marca está presente em 150 países, entre eles o Brasil, e fatura 2 bilhões de dólares por ano. Nos últimos 248 anos pouca coisa mudou na fórmula da bebida, e esse é um dos pontos fortes da marca. No entanto, o peso desse legado não tem sido suficiente para garantir novos consumidores para a Guinness justamente em seu mercado mais estratégico, a Europa. No ano passado, a cerveja teve queda de 7% nas vendas no continente. O desempenho tem sido tão decepcionante que alguns analistas de mercado sugerem que a Diageo, a gigante de bebidas alcoólicas dona da marca, deveria vendê-la e concentrar-se na parte mais lucrativa de seu negócio, a de bebidas destiladas -- a empresa também é dona de marcas como Johnnie Walker e Smirnoff.
Em uma tentativa ousada -- e arriscada -- de dar novo fôlego à Guinness, os executivos da Diageo se valeram de um recurso extremo, mas que se torna cada vez mais comum no segmento de bebidas. Eles criaram uma espécie de filhote da Guinness que renega justamente uma de suas características mais marcantes, a cor preta. Trata-se da Guinness Red, versão avermelhada da cerveja original, que, além de ser mais clara, tem o sabor mais suave e adocicado. Segundo o presidente mundial da Diageo, Paul Walsh ela é um produto mais leve, para ser consumido nos meses de verão e é feita com os mesmos ingredientes da original e a única diferença é o processo de torrefação da cevada, que tira o amargor tradicional da Guinness. A estratégia da Diageo com a nova bebida é atrair quem toma a Guinness apenas ocasionalmente -- um contingente que equivale a pelo menos metade de sua base de 10 milhões de consumidores no Reino Unido e na Irlanda. Para criar o novo produto, a empresa investiu 6 milhões de dólares e, de acordo com os testes de mercado, os bebedores de cerveja britânicos gostaram da novidade -- 60% deles disseram que tomariam a bebida novamente. Por enquanto, a venda será restrita à Inglaterra e não há previsão de lançamento em outros países.
Tamanho cuidado com a nova versão da Guinness se justifica. Apesar de a marca ter tradição na área de inovação -- lançou a primeira cerveja nitrogenada do mundo em 1958, a Guinness Draught, e criou em 1988 um dispositivo que permite que as cervejas em lata tenham as mesmas características do chope recém-saído de uma chopeira --, há o receio de a novidade ser rejeitada e, pior, prejudicar a marca-mãe em um momento pouco favorável. A mesma precaução cerca outra inovação: a Guinness Mid-Strength, versão com metade do volume de álcool de uma Guinness tradicional, em testes na Irlanda. Em 1979, a Guinness já havia lançado sua primeira versão de cerveja com teor alcoólico reduzido, a Guinness Light, mas o produto foi tão ridicularizado e a marca tão criticada que a novidade não durou nem dois anos. O argumento da Diageo para voltar a insistir em uma versão menos alcoólica é que seus cervejeiros finalmente conseguiram criar um processo de produção tecnologicamente revolucionário, em que parte do álcool é retirada depois da cerveja pronta, de forma que não altere o sabor original.
Via Portal Exame
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